sábado, 27 de outubro de 2012

Projetos de Ensino, atividades práticas, experimentação e o lúdico no ensino de ciências.



BORGES, Gilberto Luiz de Azevedo. Projetos de Ensino, atividades práticas, experimentação e o lúdico no ensino de ciências. In UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de Formação: Formação de Professores Didáticas do Conteúdo. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. v. 10. pp. 114 - 139

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“A facilidade de utilização e a rapidez dos resultados tornam a internet uma boa fonte de informações.” p. 117

E aqui compreendo que o professor não é mais a única fonte de informações ou dados conceituais. E como lidar com essa realidade senão portar-se como um motivador de habilidades. A principal delas: aprender a aprender.

É importante preparar o professor para que possa orientar os alunos sobre a melhor utilização da internet como fonte de informações. Em síntese, a pesquisa na internet, com as ressalvas feitas, serve para uma visão geral do tema e para levantar questões que necessitam de maior investigação bibliográfica ou consultas a especialistas.” p. 117 (grifo meu)

Outras fontes de pesquisa são as bibliotecas e os especialistas - mas quais são as condições das bibliotecas escolares? Continuam como depósitos de livros ou como cofre onde não pode ser tocado?

A RESPEITO DE PROJETO
“Certamente, um projeto não poderá ser iniciado se o professor não tiver as informações mínimas sobre o tema. Isto não significa que ele precise saber tudo antes dos alunos iniciarem o trabalho (...). Por outro lado, não se deve iniciar um projeto quando se têm questões fundamentais sem possibilidade de serem respondidas por falta de fontes de informação.” P. 118

“Antes de iniciar um projeto, é indispensável sabermos que pessoas ou instituições poderão contribuir de diferentes formas. Que materiais existentes na biblioteca estarão acessíveis aos alunos? Quais recursos da comunidade poderão ser utilizados? Elas foram consultadas sobre a possibilidade de colaboração? Que tipo de informação estará disponível?” p. 118

“A diversidade de conteúdos que podem ser tratados a partir da pesquisa recomenda que, preferencialmente, um projeto de trabalho seja desenvolvido pelo coletivo de uma escola e não por um único professor” p. 119

Planejamento coletivo – participação da equipe docente. No entanto, não é fácil compreender que há muita equipe que possuem membros individualista. É muito resistente a cultura na educação brasileira de o professor se fechar em seu mundo, ou em sua sala de aula, sem participar de ações coletivas em prol do processo ensino-aprendizagem. Além da teoria, sinto muito isso na prática.


“A organização de um projeto de trabalho envolve vários aspectos: escolha do tema; organização do trabalho docente e do trabalho do aluno; busca de fontes de informação; elaboração de relatórios de projetos (INFORSATO; SANTOS, 2011, p. 97-98) p. 119

INFORSATO, E. C; SANTOS, R. A. A preparação das aulas. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de Formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 9, p. 86-99. v; 9

Definição do tema. Levar em consideração o conhecimento prévio dos alunos. E quais são as medidas para se conseguir informações sobre o conhecimento prévio dos alunos? Como realizar esse diagnóstico? Como conseguir imparcialidade (se isso é possível)?

“De maneira ideal, a definição do tema de um projeto deve considerar questões propostas pelos alunos a partir de sua realidade cotidiana e de seus interesses, ou a partir de questões provocadas por situações apresentadas pelo professor” p. 120

Concepção dialógica da Educação (Paulo Freire)

“a criação de situações que propiciem motivar o aluno será, muitas vezes, o ponto de partida para projetos ou para investigação de um fenômeno, objeto ou ser da natureza.” p. 120

“Levantar hipóteses (concepções prévias) sobre o fenômeno é fundamental para instalar a dúvida e gerar o interesse dos alunos pela busca de informações.” p. 121

“A observação cuidadosa do grau de envolvimento dos alunos – através das perguntas feitas, das concepções e conhecimentos que possuem sobre o tema – será o indicador do potencial do tema para o desenvolvimento do projeto ou para não levá-lo adiante. É evidente que o trabalho do professor será decisivo para o envolvimento dos alunos. Estamos falando de possibilidades teóricas, mas muito simples em relação às situações que surgem durante o diálogo em sala de aula.” p. 122


“O conhecimento da realidade, o cotidiano e temas para Projeto

A escolha do temas para projetos é o aspecto mais importante no processo de planejamento que o professor deve fazer para utilizar essa estratégia de ensino. Sempre que possível, a definição deve partir das questões dos alunos; mas é preciso considerar as dificuldades de conduzir o ensino e a aprendizagem com tal ponto de partida. Além da curiosidade do aluno, o professor deve considerar outros critérios para a escolha de temas, entre os quais: relevância social e científica; potencial de motivar e permitir a ação efetiva dos alunos; relação com os conteúdos curriculares; possibilidade de uma abordagem interdisciplinar e de tratar de temas transversais; considerações sobre os aspectos cognitivos; probabilidade de relacionar com os conhecimentos anteriores dos alunos; potencial para tratar de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais; disponibilidade de recursos que possam ser fonte de informações para os alunos. (grifo meu)
Segundo minha experiência docente, há mais dificuldades com o professor trabalhando em uma abordagem interdisciplinar do que tratar com temas transversais. E para isso, acredito que a dificuldade de professores trabalharem em grupo ou criarem projeto coletivos acarreta essa realidade.

Outro aspecto importante a considerar na seleção dos temas é a vinculação com o cotidiano da criança, com sua realidade próxima, com seu grupo de relações. Tais aspectos, além do potencial de motivação, são fundamentais para que  se coloque em prática um dos objetivos mais importantes da educação básica: o  conhecimento objetivo e crítico da realidade. O entorno da escola pode ser o primeiro espaço para estudo das crianças. Uma praça, uma oficina, uma fábrica, o sistema de abastecimento de água, são espaços com grande potencial de exploração no ensino de ciências dos anos iniciais. As famílias e pessoas que trabalham na região podem colaborar em várias etapas do desenvolvimento de um projeto. Uma escola ou um professor que optar por essa metodologia de ensino-aprendizagem precisa conhecer o potencial da localidade como gerador de temas e como espaço de conhecimento. A escola pode ter esse papel de transformar espaços que são potencialmente educativos em espaços educadores. (grifo meu). 
Um estudo contextualizado do objeto, uma análise a luz da realidade do sujeito cognoscente é um instrumento motivador para realizar o trabalho educativo.

A escolha de temas e a maior ou menor facilidade em desenvolvê-los também se relaciona aos conteúdos curriculares e à forma de abordagem que se pretende.  Alguns temas permitirão o desenvolvimento de atividades práticas de caráter experimental; em outros haverá predominância da pesquisas bibliográficas. Alguns poderão permitir uma abordagem mais lúdica.

Por todas essas variáveis que envolvem o trabalho com projetos, é importante destacar que a escola precisa se preparar para esse tipo de atividade e, se possível, fazê-lo coletivamente. Mesmo sendo proposta de um professor, o papel da equipe de gestão é fundamental, participando concretamente de sua orientação e execução, desde a escolha do tema até a avaliação final.” p. 123 (grifo meu). E por que as escolas não conseguem trabalhar de forma coletiva, elaborar projeto coletivos onde há o apoio interdisciplinar e que contemple, também, os conteúdos transversais? Tenho algumas hipóteses

  • Gestão não democrática e não dialógica;
  • Individualismo como cultura de ação pedagógica entre professores;
  • Desavenças ou competições entre docentes;
  • Desvalorização social;
  • Falta de recursos humanos e materiais.
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
“Se o tema foi definido, é o momento de organizar o trabalho docente e de organizar o trabalho do aluno. Logicamente, a organização só se inicia após a definição do tema quando a sugestão é feita pelos alunos. Entretanto, mais comumente, os temas são propostos pelo professor e discutidos com os alunos.” p. 124

DISCUSSÃO DO TEMA COM OS ALUNOS
“A discussão do tema com os alunos permitirá definir que aspectos serão mais interessantes e relevantes para a aprendizagem dos conteúdos relacionados ao projeto. Um aspecto fundamental na definição do tema é a abrangência do mesmo.” p. 124

ABRANGÊNCIA DO PROJETO
“Estamos nos referindo a crianças de anos iniciais do ensino fundamental, o que exige bastante cuidado em relação à abrangência (diversidade de conteúdos e objetivos) e à duração do projeto. Nessa faixa de escolaridade, é mais adequado iniciar o trabalho com um tema mais específico ou, pelo menos, com objetivos específicos associados ao tema. Uma das características básicas do trabalho com projetos é produzir um resultado concreto, a ser apresentado e discutido. Por tal motivo, um projeto muito abrangente, com objetivos muito gerais, tende a ser mais complexo para os alunos dos anos iniciais e exige um longo tempo de execução. Em tais condições, há risco de gerar certo desânimo e, em consequência, ter seus resultados comprometidos.” p. 124 (GRIFO MEU). Um projeto muito extenso pode tirar a motivação das crianças em continuar até chegar ao produto objetivado. Cada vez mais longo o projeto for, mas artifício o professor deverá  ter para manter o interesse e a motivação do aluno em trabalhar.

“Sempre que possível, o projeto deve resultar em materiais concretos, que possam servir para apresentação a toda classe ou ao público externo” p.124

“Por fim, queremos destacar que não se pode associar a dificuldade de trabalhar com projetos a uma provável falta de conhecimento do professor. Não é possível e tampouco necessário que o professor saiba tudo sobre o assunto que será tema de um projeto. Não saber tudo significa que é preciso pesquisar, buscar informações e criar soluções para os problemas que surgirão ao longo do trabalho docente. O que é necessário ao professor é ter capacidade de buscar informações; saber conduzir uma investigação; orientar o aluno no processo de levantamento de dados; e auxiliá-lo na consecução de objetivos relevantes para sua vida em sociedade.

É no ato de buscar caminhos para desenvolver um conteúdo, criar novos arranjos da informação e apontar novos caminhos para a busca do conhecimento que o professor se transforma em um produtor de conhecimento escolar.

Ao se propor a trabalhar com projetos, o professor deve mergulhar profundamente no ato de aprender. Ensinar é, nesse contexto, um ato de educação permanente, que exige do professor uma reflexão sobre o que ensina, como ensina e que objetivos tem atingido.” p. 126

“Observação de objetos, fenômenos e seres vivos

Em nossa vida cotidiana, estamos constantemente observando: os lugares, as pessoas, as condições de tempo, os animais, o carro ao atravessar uma rua e tantas outras situações. A observação em nossa vida diária é, muitas vezes, banal e sem rigor. Um dos objetivos do ensino de Ciências, no seu papel de contribuir para a formação mais crítica do aluno, é desenvolver a capacidade de observar como condição para levantar dados que permitam aprofundar o conhecimento dos objetos, fenômenos e seres. Para isso, o professor deve propor situações que possibilitem ao aluno o exercício dessa habilidade.

A IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO
A observação direta, com utilização dos órgãos dos sentidos, é aquela que se faz a partir do contato com os objetos, fenômenos ou seres, tal como eles ocorrem e no próprio local de ocorrência. A qualidade da observação pode ser melhorada com a utilização de equipamentos, desde os mais simples (uma régua, uma lupa manual, um termômetro, por exemplo), até instrumentos mais sofisticados como é o caso de um telescópio ou de um microscópio. (GRIFO MEU).

No ensino de Ciências, a observação quase sempre é proposta para permitir levantamento de dados em processos de investigação. Observar é o ponto de partida para a realização de outras habilidades fundamentais em tais processos. Só é possível comunicar, comparar, agrupar, classificar e várias outras operações mentais, a partir da observação.

"A observação direta de objetos, fenômenos e seres na natureza é uma importante forma de aproximar os alunos das questões ambientais. Técnicas de ensino, como trabalho de campo e estudo do meio, apresentam características que diversificam e valorizam a observação direta.
Por um lado, tais técnicas pressupõem preparação prévia dos alunos para a observação; por outro, valorizam a autonomia dos alunos na busca de informações. Também valorizam a própria observação, pois os dados coletados devem ser discutidos em sala de aula."
p. 130

“inclui: situações que possam gerar problemas adequados ao nível cognitivo das crianças; discussão das perguntas e hipóteses dos alunos, de forma a estabelecer um direcionamento para a ação; elaboração de projetos e experimentos com a participação efetiva dos alunos; coleta de informações que, sempre que possível, deve envolver controle experimental; condições para a discussão coletiva e o registro das informações, com utilização de diferentes técnicas.” P. 132

HABILIDADES INTELECTUAIS

“Em uma atividade investigativa elaborada para testar as hipóteses dos alunos sobre um determinado problema, algumas ou várias habilidades intelectuais podem estar envolvidas. Ao se trabalhar com crianças, é importante uma avaliação mais cuidadosa para saber quais delas deverão ser propostas. Partindo da observação e representando uma sequência, embora não absoluta, a investigação deve favorecer as seguintes habilidades: comparação, estabelecendo semelhanças e diferenças entre objetos e organismos em termos qualitativos e quantitativos; organização, quando o aluno deve seriar e classificar objetos, fenômenos e seres, bem como estabelecer critérios para seriação e agrupamentos; experimentação, referindo-se a um procedimento em que causa e efeito, natureza ou propriedade de algum objeto, fenômeno ou ser, é determinada pelo aluno, sob condições controladas; inferência, que representa a operação em que o aluno é solicitado a fornecer a razão de uma ocorrência, providenciar uma conclusão ou formular um modelo teórico; e aplicação, que corresponde à situação em que o aluno deve utilizar seus conhecimentos e habilidades na resolução de um problema novo.” P.133

“O que queremos ressaltar é que nem sempre podemos trabalhar com situações concretas e que será necessário abordar conceitos ou ideias mais abstratas.” P.133

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